Com este domínio,
desenvolvemos a liberdade e a autonomia para arriscar, ir até os limites
e fazer as mudanças necessárias em qualquer lugar.
A história a seguir é real e gosto muito de contá-la, pois mostra a importância da autoconfiança no desenvolvimento da carreira e conquista do seu espaço.
Uma média empresa de consultoria de São Paulo, com aproximadamente 200
funcionários, realizava a cada duas semanas uma reunião geral com todos
os seus 8 diretores. Um deles chamava-se Getúlio e era
conhecido entre os colegas como ‘o mala’. Ninguém gostava dele porque
ele tinha a mania de procurar ‘pelo em ovo’, ou seja, quando o grupo já
tinha tomado uma decisão, ele sempre levantava um ponto: “Acho que não
discutimos isso o suficiente” e fazia todo mundo voltar a debater o
assunto. Uma reunião com o Getúlio levava sempre mais tempo, até uma
hora a mais. Getúlio, ‘o mala’.
Nesta
época, eu dava consultoria para esta empresa e uma vez um dos sócios me
disse que pensava em dispensar o Getúlio. Perguntei por que ele faria
isso e ele respondeu laconicamente: “Não precisamos de gente como ele
aqui. Precisamos de pessoas que jogam junto, como um time e não do
contra, como ele”. Então, fiz outra pergunta: “Alguma vez o Getúlio
levantou uma questão que, depois de discutirem mais, vocês mudaram a
decisão e a nova decisão acabou se provando melhor?” Ele respondeu que
sim, inclusive mais de uma vez.
“Bem”, completei, “acho que o Getúlio é a pessoa mais importante que
você tem na sua equipe". Ele parece ser o único que não se sujeita a
votar pela maioria. Ele tem uma opinião própria e não tem medo de
manifestá-la e lutar por ela. Isso é raro nas empresas. Normalmente as
pessoas têm medo de serem diferentes, ou pior, não conseguem enxergar o
que está na cara delas. Quando você encontra uma pessoa que vê o que
ninguém viu, precisa mantê-la a todo custo, pois ela pode abrir os olhos
de quem só tem uma visão da coisa.
Ele refletiu e acabou cedendo ao meu argumento. Getúlio continua lá,
depois de quase 10 anos deste episódio. Mas a história não acaba aqui.
Há dois meses encontrei o Getúlio e fomos tomar um café. Ele está muito
contente na empresa, como responsável pela área de novos produtos.
Apenas neste momento mencionei o que havia acontecido naquela ocasião.
Ele ficou espantado, não sabia de nada e me agradeceu muito. Então,
perguntei a ele: “Você não tem medo de ficar falando as coisas assim, na
lata, sem se importar se vai agradar ou não? E se eu não estivesse lá? E
se eu não intercedesse a seu favor? Você poderia ter perdido o
emprego!”. A resposta foi surpreendente e representou uma grande lição
para mim:
“Sabe o que é, Marcos? Eu não estou muito preocupado com emprego, não.
Posso ter muitos defeitos, mas sou muito bom no que faço. Sei disso
porque já recebi muitas ofertas para ir para o concorrente. Se eu
tivesse perdido o emprego, sei que no dia seguinte já estaria empregado
de novo, talvez até com um salário melhor. Só que eu gosto daqui, me
sinto bem com as pessoas, sei que posso fazer a diferença e é exatamente
por me importar que quero continuar.”
Trocamos mais algumas ideias e nos despedimos com o compromisso de
mantermos contato. Enquanto via ele sair, pensei em como é importante o
autoconhecimento, saber do que somos capazes, conhecer nossas limitações
e potencialidades. É com este domínio que desenvolvemos a autoconfiança
que nos dá liberdade e autonomia para arriscar, ir até os limites e
fazer as mudanças necessárias em qualquer lugar.
Marcos Hashimoto é doutor em Administração pela EAESP-FGV, professor e coordenador do Centro de Empreendedorismo da FAAP e pesquisador do Mestrado Profissional da Faccamp.
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